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Dieese aponta reajuste abusivo das escolas

Atualizada em 26/02/2004 16:02

Estabelecimentos privados de ensino aumentaram as mensalidades em 94,52% desde 1997

Francisco Bicudo

“Aumento abusivo”. É assim que a coordenadora do Índice do Custo de Vida (ICV) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sociais (Dieese), Cornélia Nogueira, classifica o reajuste que as mensalidades escolares sofreram nos últimos sete anos (1997 a 2003). Enquanto a inflação do período registrou um índice total de 72,05%, os valores pagos pelos pais de alunos subiram 94,52% - ou seja, 22,5 pontos percentuais a mais.

Com números tão expressivos, “as escolas nem precisariam reajustar as mensalidades neste ano. No acumulado desde 97, elas ainda estão muito à frente da inflação”, explica a coordenadora. Mas não foi o que aconteceu. A vontade dos donos de escola de ver suas caixas registradoras funcionando parece não ter limites. O que o estudo do Dieese constatou foi mais um aumento – em média de 12% - neste início de 2004, enquanto a inflação de 2003 foi de 9,55%. Como sempre, as escolas aproveitam-se da virada do ano para o pulo do gato - reajustes que superam os índices inflacionários. Em São Paulo, foram pesquisadas 50 instituições de ensino – da pré-escola às universidades.

E se engana quem pensa que o valor das mensalidades colocado nas alturas resultou em aumento de salário. “Nos últimos sete anos, os salários dos professores foram reajustados em média em 30%. Bem abaixo dos 94,5%”, afirma Cornélia. Cai por terra, assim, o falatório dos patrões de que não têm dinheiro para melhor remunerar seus docentes. Trata-se de discurso vazio, sem sustentação, que mais procura confundir do que explicar, e que tem como objetivo maior colocar os professores como os vilões da história. A intenção é tratar do secundário, deixando o principal de lado. Então a que se devem esses quase 100%? “Aumento na margem de lucro mesmo... ou então saudades” Saudades de quê? E a coordenadora do ICV completa: “Houve um tempo em que os donos das escolas ganharam muito dinheiro. Muito mesmo. Eles devem estar querendo voltar a esse período”, ironiza.

Segundo Cornélia, embora, desde 1997 o reajuste das parcelas sempre tenha estado acima da inflação, em 97 e 98, a diferença entre os índices foi tão gritante (14% contra uma inflação de 6,11%, e 8,21% diante de uma inflação de 0,49%, respectivamente) que, teoricamente, não precisaria haver aumento por muito tempo. Haveria gordura de sobra para ser queimada.

Além da injusta distribuição de renda, das altas margens de lucro, dos salários defasados dos professores, o aumento abusivo dos valores da educação ainda provoca prejuízo na renda familiar. De acordo Dieese, o Custo de Vida de janeiro apresentou alta de 1,46%, frente a 0,32% em dezembro. A principal alavanca foi o item “Educação e Leitura”. E, dentro desse, o subgrupo educação foi o maior incentivador da alta. Cornélia Nogueira explica que as causas foram mesmo os reajustes nas escolas e universidades. Educação, lembra a pesquisadora, representa 6,3% do orçamento doméstico.

A equação, portanto, pode ser resumida da seguinte maneira: os pais pagam cada vez mais, os professores não recebem reajustes na mesma proporção, e os donos de escola não conseguem esconder o sorriso de felicidade, já que o ensino privado se transformou em um dos negócios mais lucrativos do país.

Não há como esconder ou camuflar a verdade: as escolas têm todas as condições financeiras de atender às exigências de reajuste salarial feitas pelos professores. Contra fatos – ou melhor, contra números –, não há argumentos.

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